domingo, 12 de fevereiro de 2012

Um dia desertamos todos

Depois terem sido dispersos da praça de Syntagama com gás lacrimogéneo, enquanto a discussão do novo plano de austeridade decorria no parlamento, os protestantes continuam a gritar pela revolução. A luta, dizem, faz-se entre cidadãos e a polícia a mando do Estado. Há uns dias, num daqueles voxpops a propósito do aumento dos transportes públicos, uma senhora exclamava, em Lisboa, que qualquer dia desistíamos de trabalhar. Não me parece má ideia.

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A independência do salário e de objectos mercantilizados foi uma das bandeiras mais vigorosas da World Industrial Workers. Ontem, na manifestação da CGTP que reuniu, dizem, cerca 300 mil pessoas no Terreiro do Paço, pedia-se trabalho e aumento do salário mínimo contra o plano de ajustamento aplicado a reboque do acordo com a Troika. Há uma curteza de vistas que me preocupa. Bem sei que com o advento da democracia -- a da 1.ª República e a do pós-25 de Abril -- nos convencemos todos de que até fazemos parte do contrato social burilado em forma de Estado. Mas parece-me que limitar a coisa à negociação do equilíbrio nas relações de produção é de um conformismo insuportável nos dias que correm. Em breve -- e preferia estar enganada -- abalará o conforto perceptivo que embala estas loas ao sistema económico vigente. Tomara que o pânico não suplante a vontade de constituir coisas novas.

1 comentário:

Diana disse...

Eu sabia que era questão de ganhares balanço...
Pergunto-me o que acontecerá se das eleições do ano que vem, resultar um governo que restitua a soberania ao país (e quando escrevo país, escrevo pessoas).
Aí, talvez, a primeira prova a um novo sistema: haverá pânico ou criatividade?