Preocupa-me que as duas últimas postas de escrita deste blog sejam minhas, no estilo indecifrável do costume. Então, digam-me lá: o que se passa? Nenhum comentário ao escândalo do Relvas? Nem às manifestações no país vizinho? Vá lá, pessoas! Isto tem de arrebitar!
domingo, 15 de julho de 2012
Francamente
Preocupa-me que as duas últimas postas de escrita deste blog sejam minhas, no estilo indecifrável do costume. Então, digam-me lá: o que se passa? Nenhum comentário ao escândalo do Relvas? Nem às manifestações no país vizinho? Vá lá, pessoas! Isto tem de arrebitar!
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Sobre a afasia variável em espaço público e a (in)definição das pessoas
Bourdieu podia dizer o seguinte:
"A homogeneidade das disposições associadas a uma posição e o seu ajustamento aparentemente miraculoso às exigências inscritas na posição são o produto, por um lado, dos mecanismos que orientam para as posições dos indivíduos previamente ajustadas, quer se sintam feitos para cargos que foram feitos para eles -- é a «vocação» como adesão antecipada ao destino objectivo que é imposta pela referência prática à trajectória modal na classe de origem --, quer sejam assim vistos pelos ocupantes desses cargos -- é a cooptação baseada na harmonia imediata das disposições --, e, por outro lado, da dialéctica que se estabelece, durante toda uma vida, entre as disposições e as posições, entre as aspirações e as realizações. O envelhecimento social mais não é do que o lento trabalho de luto ou, se preferirmos, de desinvestimento (socialmente assistido e encorajado) que leva os agentes a ajustarem as suas aspirações às suas hipóteses objectivas, conduzindo-os assim a desposarem a sua condição, a tornarem-se naquilo que são, a contentarem-se com o que têm, mesmo que esforçando-se para se enganarem a si próprios sobre o que têm, com a cumplicidade colectiva, a fazerem o seu luto de todos os possíveis laterais, a pouco e pouco deixados para trás, e de todas as esperanças reconhecidas como irrealizáveis à força de se manterem não realizadas." (p. 190)
Em "A Economia das Práticas", A Distinção: Uma Crítica Social da Faculdade do Juízo, trad. Pedro Elói Duarte, Lisboa, Colecção História&Sociedade, Edições 70, 2010 [1979].
Do que se podem retirar quatro notas sobre a dificuldade de se professar na prática, na relação cara-a-cara, o que se anda por aí a postular em nome de utopias vindouras:
1) Sejamos sempre demasiado novos para esse envelhecimento social;
2) Fazer política é combater a contracção realista do que nos rodeia, não a negando mas reconhecendo a sua força;
3) Há que acreditar que é possível confrontarmo-nos com as contradições uns dos outros e aprender ao longo do caminho, sem desistir de ninguém (sem desistir de nós mesmos);
4) Há que reconhecer que as palavras são imperfeitas, incompletas, e reclamar, sempre que preciso, uma transformação de termos, para não nos consumirmos em silêncios inquebráveis, ganhando coragem na multiplicidade de registos que se entreabrem em encontros pelo quotidiano fora.
"A homogeneidade das disposições associadas a uma posição e o seu ajustamento aparentemente miraculoso às exigências inscritas na posição são o produto, por um lado, dos mecanismos que orientam para as posições dos indivíduos previamente ajustadas, quer se sintam feitos para cargos que foram feitos para eles -- é a «vocação» como adesão antecipada ao destino objectivo que é imposta pela referência prática à trajectória modal na classe de origem --, quer sejam assim vistos pelos ocupantes desses cargos -- é a cooptação baseada na harmonia imediata das disposições --, e, por outro lado, da dialéctica que se estabelece, durante toda uma vida, entre as disposições e as posições, entre as aspirações e as realizações. O envelhecimento social mais não é do que o lento trabalho de luto ou, se preferirmos, de desinvestimento (socialmente assistido e encorajado) que leva os agentes a ajustarem as suas aspirações às suas hipóteses objectivas, conduzindo-os assim a desposarem a sua condição, a tornarem-se naquilo que são, a contentarem-se com o que têm, mesmo que esforçando-se para se enganarem a si próprios sobre o que têm, com a cumplicidade colectiva, a fazerem o seu luto de todos os possíveis laterais, a pouco e pouco deixados para trás, e de todas as esperanças reconhecidas como irrealizáveis à força de se manterem não realizadas." (p. 190)
Em "A Economia das Práticas", A Distinção: Uma Crítica Social da Faculdade do Juízo, trad. Pedro Elói Duarte, Lisboa, Colecção História&Sociedade, Edições 70, 2010 [1979].
Do que se podem retirar quatro notas sobre a dificuldade de se professar na prática, na relação cara-a-cara, o que se anda por aí a postular em nome de utopias vindouras:
1) Sejamos sempre demasiado novos para esse envelhecimento social;
2) Fazer política é combater a contracção realista do que nos rodeia, não a negando mas reconhecendo a sua força;
3) Há que acreditar que é possível confrontarmo-nos com as contradições uns dos outros e aprender ao longo do caminho, sem desistir de ninguém (sem desistir de nós mesmos);
4) Há que reconhecer que as palavras são imperfeitas, incompletas, e reclamar, sempre que preciso, uma transformação de termos, para não nos consumirmos em silêncios inquebráveis, ganhando coragem na multiplicidade de registos que se entreabrem em encontros pelo quotidiano fora.
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